Especialistas respondem: se você pudesse apertar um botão de emergência para o planeta, em qual área ele deve agir?
Ainda dá tempo de mudar o rumo do clima no planeta
Se o planeta tivesse um botão de emergência, qual seria a prioridade ao apertá-lo? Foi essa pergunta que o g1 fez a mais de 30 pesquisadores de referência mundial, ambientalistas e personalidades com voz ativa no debate climático.
➡️Nos últimos anos, o planeta tem dado sinais cada vez mais claros de desequilíbrio. As emissões globais de gases do efeito estufa continuam em alta, e o limite de 1,5 °C de aquecimento previsto no Acordo de Paris está prestes a ser ultrapassado.
Nesse cenário, o g1 convidou 33 nomes entre pesquisadores sobre o clima, ambientalistas e pessoas com voz ativa sobre a causa há décadas para dizer: se tivessem nas mãos o poder de apertar um botão capaz de mudar o rumo do planeta, o que ele faria? (Veja abaixo suas respostas)
O que significa mudar o modelo de consumo?
Quando os especialistas falam em transformar o modelo global de consumo, não se referem apenas a hábitos individuais, como comprar menos.
➡️ O conceito vai além do cotidiano e envolve toda a cadeia de produção, desde a extração da matéria-prima até o transporte, a venda e o descarte. Isso inclui:
Extração de matéria-prima;
A forma como um produto é feito e o quanto sua produção afeta o meio ambiente;
O meio de transporte;
O apelo de venda;
E o descarte.
Precisamos mudar o sistema econômico no qual a natureza e o bem-estar são valorizados.
Hoje, quase tudo o que consumimos vem de um modelo baseado em produção em massa, exploração de recursos e descarte acelerado. Esse modelo pressiona as florestas, os rios e a produção de energia.
A indústria da moda, por exemplo, é responsável por cerca de 10% das emissões globais e consome bilhões de litros de água por ano.
Até a tecnologia que usamos — de celulares a carros elétricos — depende de mineração e energia intensiva, que impactam diretamente o solo e os ecossistemas.
O que diz quem está no mercado?
Para este especial, o g1 também ouviu personalidades que estão no mercado e à frente de grandes empresas. Responderam ao questionário:
a Presidente do Magazine Luiza, Luiza Trajano;
o CEO da Natura, João Paulo Ferreira;
o co-fundador da marca de tênis Veja, François Morillion.
🔴 Os três não citaram como o principal problema o modelo de consumo, mas em suas respostas reconhecem a questão do modelo de produção e a responsabilidade das empresas, tanto como para repensar suas formas de produzir como sendo parte atuante na pressão por políticas públicas que busquem a proteção ambiental.
Veja abaixo o que eles disseram:
Nos últimos anos, houve avanços importantes, como metas de neutralidade de carbono e investimentos em transição energética, mas esses compromissos ainda enfrentam desafios significativos de implementação. O meu otimismo vem do fato de que a pressão da sociedade civil, das empresas e de eventos climáticos extremos tem levado os governos a reconhecerem que o custo de não agir é cada vez maior e também tenho a percepção que a economia verde pode gerar oportunidades de crescimento e inovação.
O setor privado, responsável por 80% das emissões de gases de efeito estufa no mundo, não pode deixar de lado as externalidades e focar apenas no resultado financeiro. As empresas têm a capacidade e a responsabilidade de serem verdadeiros motores da transformação. Isso significa liderar pela ação, inovar e colaborar em escala. Adotar essa agenda não é apenas um dever moral, mas uma oportunidade de geração de valor para os negócios.
Muitas soluções para enfrentar a crise climática já existem. Elas estão nos territórios, nas comunidades, nas cooperativas que há décadas fazem um trabalho sério e, muitas vezes, invisível. O desafio está em adaptar os modelos de negócios para funcionar com essas soluções. Isso exige paciência, flexibilidade e, acima de tudo, vontade de fazer direito. Se mais empresas aceitarem esse caminho de trabalho colaborativo, menos vertical e mais horizontal, talvez a mudança venha antes do que imaginamos.
Energia e floresta
Logo atrás na lista de prioridades aparecem dois pontos: a transição energética e a proteção das florestas. Os dois temas ajudariam a resolver uma questão importante para o equilíbrio do clima, com a redução das emissões de gases que causam o efeito estufa.
➡️ A energia ainda é majoritariamente produzida por combustíveis fósseis, responsáveis por cerca de 75% das emissões globais de carbono.
No Brasil, a maior parte vem de fontes limpas, como a hidrelétrica. No entanto, no mundo ainda há países altamente dependentes do carvão, especialmente na Europa e na Ásia.
🔴 Se fosse possível apertar um botão e mudar a matriz energética global, isso reduziria drasticamente as emissões.
A transição energética é hoje um dos maiores desafios da humanidade. Apesar de acordos internacionais pela redução do uso de combustíveis fósseis, os compromissos ainda estão longe de sair do papel.
Por outro lado, se houvesse um botão que pudesse frear o desmatamento e promover imediatamente a proteção de florestas, ele também reduziria as emissões.
🪚 No Brasil, por exemplo, a maioria das emissões é causada pelo desmatamento. Isso faria com que toneladas de carbono não fossem para a atmosfera e mais do que isso, aumentaria o potencial de absorção.
A emergência que conecta todas as outras
Embora cada entrevistado tenha escolhido um “botão” diferente, o levantamento mostra que não existe uma solução isolada.
➡️ Por exemplo, uma mudança no modelo global de consumo poderia:
Reduzir a demanda por energia, diminuindo as emissões;
Diminuir a pressão por matéria-prima, facilitando a proteção das florestas e da água;
E, com isso, fortalecer povos indígenas e comunidades que dependem desses recursos.
➡️ Ao mesmo tempo, a transição energética:
Reduziria drasticamente as emissões.
Faria com que as empresas repensassem seu modelo de produção
Protegeria os recursos hídricos
O consenso dos especialistas é que, independente da área que seja prioritária, o planeta já está em modo de emergência, e é preciso agir de forma urgente.
Os diferentes regimes climáticos do planeta são o resultado de um equilíbrio energético muito delicado entre a energia solar absorvida e a energia térmica dissipada para o espaço. A natureza delicada desse equilíbrio e seus efeitos no meio ambiente devem ser levados a sério pelos seres humanos.
*Colaboraram: Julia Carvalho, Roberto Peixoto e Talyta Vespa.FONTE: https://g1.globo.com/meio-ambiente/noticia/2025/11/20/especialistas-respondem-se-voce-pudesse-apertar-um-botao-de-emergencia-para-o-planeta-em-qual-area-ele-deve-agir.ghtml